A arte da vida pode também estar no redescobrir
Buscamos, procuramos, nos metemos, esmiuçamos e buscamos outra vez. Queremos o novo. Queremos algo que continue a nos completar, que nos preencha nesse sentir falta, comum e diário, mesmo que em níveis diferentes. Queremos o novo que represente a resposta aos anseios atuais, urgentes.
E nesse buscar, desejamos as vitrines, se uma não tem o que queremos ou podemos querer, a próxima com certeza terá. E se passarmos do material para o humano? Aí queremos novos amigos, novos relacionamentos. Nada contra às mudanças, se elas são necessárias.
Mas se pararmos um pouco, talvez tenhamos oportunidades de rever o velho, como se fosse o novo, mas com laços bem mais afinados. Diante dessa possibilidade, vem a questão - o melhor é o realmente o novo? Se for, mãos a obra. Cabeça erguida e coragem. Mas se sentirmos que podemos olhar o que já existe ali perto, à nossa frente, mãos a obra também, cabeça erguida e coragem.
Suponho que queiramos dar outra olhada ao que está à nossa frente, talvez um pouco de lado, mas lá. Assim, deixamos a busca desenfreada pelo novo para outra hora e nos oportunizamos olhar novamente, olhar e ir além, portanto, enxerga e redescobrir.
De repente, aquele amassado do carro, que você nem quer olhar, mas ele olha pra você ao menos duas vezes por dia, traga lembranças Quem sabe foi um dia feliz? E deve ter sido, pois você está vivo. E aquele cd? Todo arranhado, afinal, você escutou aquela música mil vezes. Mas acha que o tempo passou, mas ela tocou de novo e você a sentiu com prazer. Falando nisso, será que está em desuso falar em cd? As vezes acho que parei no tempo com essas coisas de tecnologia. Acho que o ideal seria falar no Ipod. Mas deixarei o cd, por enquanto. Este é assunto para outra relfexão.
E os livros? Os livros. Quantas viagens. Algumas, sempre atuais. Será que vale a pena dar mais uma olhada? As vezes dou uma revisitada e o meu entendimento passa a ser outro, e se não for de admiração, é de respeito ao que o seu conteúdo já despertou em mim.
É esse novo olhar sobre o antigo que podemos, muitas vezes, reviver um desejo ou experimentar um prazer desprezado, nem sempre por má vontade, mas por falta de ir além do olhar, de revisitar e valorizar, afinal, são troféus. Tenhamos cuidado – as conquistas podem ficar no passado, se não conseguimos nos reafirmar em propósitos, revisitar os desejos e valorizar o que se tem.
Estava aqui, pensando... buscar o velho pode ser tão prazeroso quanto encontrar o novo. E repito – não sou contra o novo, pois é necessário. Mas falo aqui do prazer de reafirmamos aquela empolgação com o carro que já não está mais tão aí, dos amigos que não ligamos, dos amor que deixamos de reafirmar. Falo aqui de olharmos sem esquecer-se de, ao menos, tentar enxergar, ir além de simplesmente ver o que conquistamos, e com a admiração que essas coisas merecem, pois são marcar nossas.
E o prazer de enxergar novamente, ou com outras perspectivas, ou melhor, encontrar um fragmento novo, rico, empolgante, nas coisas, e principalmente nas pessoas. Acho que isso é ver a vida em detalhes. Uma habilidade pouco usada, convenhamos, mas sem culpa, pois a vida é urgente demais, e as vezes parar é quase inadmissível. Mas nos oportunizarmos a isso, é direito.
Não vamos parar de olhar para o novo, mas não deixemos de revisitar a vida que se tem. Ela é única, e com certeza, muito rica. Para isso, simples assim, basta aprendermos que, ao olhar, podemos mais que ver o urgente, podemos enxergar, reencontrar, e isso é especial, talvez mais especial do que correr para o novo quando não se trate mais do ideal urgente.
Aleandro Rocha, março de 2011