Em um mundo onde precisamos articular incessantemente o nosso “ter” social, estamos construindo muralhas. Ao partirmos para as relações pessoais, já nos tornamos muros, com bases de pedras feitas dos arranhões e do cimento das formas virtuais.
Neste novo mundo da virtualidade, prático e dinâmico, vendem-se os facilitadores que enchem os nossos olhos com as possibilidades “adicionadas”. Bastam alguns cliques...convidar...aceitar.... curtir.... Mas qual é o formato das relações que desconhecem limites? Será que estamos aproveitando esses recursos para aproximar ou para fazer de conta que somos?
No caos automatizado, robotizamos sentimentos, sem tempo para reconhecer, admirar, deixar doer, e sem o espaço para transformar. Isso porque nos tornamos máquinas desenhadas pelos rostos felizes que estampam as redes.
No entanto, um olhar mais cuidadoso pode revelar vazios que lotam os scripts dessas mesmas páginas, cheias de um todo não processado de sentimentos mascarados nos novos e atraentes perfis, que nos saltam confusos e fadados ao nada.
Vítimas da vida, de nós mesmos, do que não se percebe por meio de um olhar machucado, medroso? No geral incapazes de protagonizarmos as próprias vidas de forma mais honesta, pois o “ser” que buscamos é o mesmo que agride sem saber, pois perdeu a noção da própria dimensão, está tímido na verdade e voraz nas fantasias. Por isso, caímos na repetição, nas armadilhas, nas prisões, no nada, diante, muitas vezes, do que poderia ser mais verdadeiro... ser uma construção a partir dos encontros.
No virtual, projetamos as novas relações humanas, tão fugazes quanto a praticidade para adicionar, que se esvaem com a rapidez e ao comando do medo de sentir, do desconhecimento, pois as facilidades dos encontros parecem sucumbir ao desafio da permanência, revelando que o difícil não é encontrar, mas aprender a regar.
Enquanto não olharmos para as nossas repetições, seremos escravos e resquícios confusos do não-elaborado, cairemos na falta de respostas, no vazio; faremos do meio um fim.
Se não tivermos a coragem de admitir quem somos por trás das telas, sempre seremos uma interrogação, aumentando os próprios cortes e desrespeitando o outro. Sem possibilidades reais, não transformaremos nada, apenas continuaremos como construtores de possibilidades e de histórias cheias de desencontros e de dor.