O tempo de cada um
Vivemos, tateamos ou mergulhamos nas buscas. Ganhamos e perdemos a todo tempo, o tempo todo... São os momentos para desejar, sonhar, fazer, olhar, compartilhar: portanto, viver!
Se nos permitimos é porque escolhemos a vida, que se consolida na intensidade dos detalhes, na grandiosidade do ser e na renovação dos ciclos. Neste caminhar para conquistas - desenfreados ou reticentes, priorizamos e ressaltamos os ganhos. Nada mais natural.
No entanto, quando as coisas não acontecem como esperávamos, essas “não- conquistas - frustrações” nos caem como perdas e são recebidas, geralmente, como questões negativas, logo "superadas". Muitas vezes, fazemos isso, pois já é sabido que olhar o que não foi conquistado, portanto, “perdido”, incomoda, desencanta, dói.
Diante dessa negação, apressamo-nos em esquecer essas “não-conquistas”, adiantando em enviá-las para um canto pouco visitado. Essa é uma corrida pela superação e, de preferência, sem muita reflexão. Afinal, a vida continua. De que jeito? Não se sabe, mas continua. Que bom! ...Será? Será que a continuidade sem a pausa certa para olhar é o ideal de um novo caminho?
Talvez não; talvez seja possível aprender com as perdas, transformar pedras em caminho de conhecimento. Mas para isso é preciso dedicação e, muitas vezes, o mesmo empenho que tivemos ao partir para a realização. Por isso, há tempo para reverenciar as perdas. Perdas? Sim! De todos os tipos e intensidades.
Longe de ser um exercício de sofrimento, sentir as perdas é uma oportunidade de reverenciar e valorizar os próprios sentimentos diante das adversidades, oportunizar-se conhecer a si mesmo diante dos fatos, das pessoas, dos sentimentos que nascem, se transformam ou morrem.
Para aprender, é preciso dedicação. Permitir-se demanda um tempo; o tempo de cada um, das coisas, das relações e seus reflexos, portanto, da vida. E é sobre esse tempo necessário a olhar as perdas que devemos “ponteirar”: um tempo calculado pela intensidade do que se desejou e de como se experimentou, o que vivenciamos e a que lugar chegamos.
Uma viagem a olhar as perdas é um caminho para, talvez, transformar a forma de agir e, até mesmo, de desejar. Uma experiência única na forma de se expressar, e particular na forma de sentir.
Fazer esse exercício, nem sempre agradável, mas necessário, é uma maneira de superamos as fugas que nos impedem de sentir o desprazer, tão revelador diante da nossa condição de ser desejante; é tornar-se responsável pelo que acontece em nossas vidas, sem a desculpa de sermos vítimas, mas seres que buscam - autores e atores da própria história, sem os escudos que nos “protegem” de sentir a vida com ela é: única, intensa, também sutil, mas não menos profunda; hora permeada pelas adversidades, hora impulsionada pelas descobertas, superações e crescimento.
Dar-se o tempo necessário para olhar as perdas, chorar, se preciso, é construir caminhos mais conscientes para continuar navegando nos sonhos.
Portanto, continuemos a sonhar, a desejar, e, assim, transformar. Mas sem ignorar o que se viu como as perdas, a não realização de projetos de vida, pois elas podem e nos dizem muito sobre quem somos, nos auxiliando nos próximos passos, sobre como vamos querer novamente, reinventar e criar.
Quanto tempo leva tudo isso? Leva o tempo necessário, o tempo transformador, das coisas e das pessoas, o tempo de cada um.
Aleandro Rocha, setembro de 2011