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Os “não ditos”
Os “não ditos”

 

Algumas relações como as que se vive no real e mesmo as que só estão no imaginário, muitas vezes, trazem angústias nascidas pelo “não dito”. São as perguntas não respondidas, as incertezas e os desencontros. Algumas relações apresentam inquietude depois de um tempo de caminhada e outras já nascem assim, exigindo constante leitura das entrelinhas.

Na busca por caminhos que se cruzam, o que se deseja é o encontro de objetivos em comum, inexistência de amarras, caminhos livres e uma boa história. Alguns encontros acontecem com tom de surpresa, do inesperado, do dia comum que toma ares de especial. Podemos pensar que isso acontece pelo desejo de mudança depois de tempos  nebulosos, em que se ansiava uma nova paixão e se estendia no querer de um sonho, de algo maior. E isso pode e acontece!

No entanto, é o mal-estar do que não se fala, do que não se sabe e de amarras indizíveis no momento em que se busca construir uma história é que se pretende esta breve observação, em forma de texto, na tentativa de encontrar palavras e costurar sentidos. Mas são os desencontros que podem se desfazer antes de se realizar no real que, infelizmente, formam os caminhos tortuosos, as pedras, os resquícios e as interrogações.

É daí que pode surgir a consternação que traz o “não dito”. O que era pra ser um encontro passa a ser um enigma angustiante e sua fonte nem sempre está no que vemos ou ouvimos, mas nas entrelinhas. Mesmo sem ter nomes, sentimos, e o que era pra ser bom, aperta no peito. Quando as relações se configuram assim, num contexto abstrato, a angústia não demora a chegar e aí é preciso redobrar a atenção, renovar a persistência e não mascarar as mensagens.

A clareza dos fatos pode estar ofuscada, pois esse sentir muitas vezes angustiante da dúvida está presente enquanto se faz planos para uma vida a dois. Pergunta-se, então, por que essa relação não acontece? Não sei o que está errado, mas algo me incomoda. Esse pensamento, geralmente, está ligado a situações confusas e a pessoas indecisas que nos deixam também indecisos e nos trazem dor.

Seria simples acionarmos o sensor da experiência para decidir se vale a pena ficar ou se já é hora de partir. No entanto, muitas vezes, nem o que foi vivido faz a diferença, pois alguns enigmas podem nos empurrar para o caminho da persistência, que tem um lado abstrato, embora perigoso. É a partir daí que começam os desconfortos da rotina – uma hora acredita-se, renova-se, já em outra o desencanto se intensifica. Mas se a persistência em ficar for mais forte, é por que alguma coisa ainda precisa ser vivida e enxergada na relação. É a busca pela verdade esclarecedora, mesmo que temida, pois, por mais dura que seja, nos permite opinar na tentativa de compreender e esperar o tempo certo, sem esquecer que decidir pelo ponto final é um risco, mas também um direito.

O ser humano precisa ter o mínimo de clareza sobre o que está lutando, até mesmo como uma “garantia” (se é que existe) de não correr o risco de ser enganado, de evitar decepções e de não lutar em vão por algo que, muitas vezes, só existe nas próprias projeções e fantasias.

Quando a situação não é clara e a vontade de ficar for maior do que o incômodo trazido pela angústia do “não dito” resta esperar que a vida traga esse esclarecimento, e é possível que ele caia em nossas mãos, pois o tempo sempre nos mostra.

É preciso esperar que o tempo disperse as dúvidas, talvez até mostrando nossos próprios enganos e provando o contrário dos pensamentos pessimistas que tínhamos em função das suspeitas. É um risco, mas quem disse que a vida também não é uma tentativa de acertos?

 

 

Aleandro Rocha